Vimos á volta de uma estrada?
– Uma horrenda carniça, oh que visão aquela!
Aos pedregulhos atirada;
Com as pernas para o ar, qual mulher impudente
Tressuando vícios e paixões
Abria de maneira afrontosa e indolente
O ventre todo exalações;
Radiante, cozinhava o sol essa impureza,
A fim de tendo o ponto dado,
Cem vezes restituir á grande natureza
Quando ela havia ali juntado.
E contemplava o céu a carcaça ostentosa,
Como uma flor a se entreabrir!
E o fétido era tal que estiveste, nauseosa,
Quase em desmaios a cair.
Zumbiam moscas mil sobre esse ventre podre
De onde os exames vinham, grossos,
De larvas, a escorrer como azeite de um odre.
Ao longo de tantos destroços.
E tudo isso descia e subia em veemência
ou se lançava a fervilhar…
Dir-se-ia que esse corpo a uma vaga influência
Vivia a se multiplicar!
— Era um mondo a vibrar sons de música estranha,
Bem como o vento e a água em carreira
Ou o som que faz o grão que o joeirador apanha
E agita e roda na joeira,
E tudo a se apagar mais que um sonho não era,
– Esboço lento a aparecer
Sobre a tela esquecida, e que um artista espera
Só, de memória, refazer,
De uns rochedos, por trás, uma cadela quieta,
com desgostoso olhar nos via
espiando a ocasião de retomar, á infecta
ossada, o que deixado havia,
— E no entanto ás de ser igual a essa imundícia,
A essa horripilante infecção,
Astro dos olhos meus, céu da minha delícia.
Tu, meu anjo e minha paixão!
Assim tu hás de ser, oh rainha das Graças!
Quando depois da extrema-unção
Fores apodrecer sob a erva e as flores baças,
Entre as ossadas, pelo chão!
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Diz então, lindo amor, á larva libertina.
Que há de beijar-te em lentos gostos,
Que eu a forma guarde, mais a essência divina,
Dos meus amores decompostos!
Lindo! Simplesmente magnífico! Baudelaire é o melhor!
Lindo, lindo poema!